“Sei que agora, nesse exato segundo, eu estou
ultrapassando as barreiras que foram impostas. Sei também que não
devia estar fazendo isso, mas estou. E é pela última vez, eu juro. Você
não tem noção do quão difícil está sendo lhe escrever de novo. A cada
ponto final de cada frase o meu corpo se estremece, minhas mãos suam,
meu pescoço estrala e eu sequer cheguei na metade de tudo o que quero te
dizer. Aliás, acho que o fim do que eu sempre quis falar nunca esteve,
de fato, próximo assim. Mas hoje é diferente. Eu não vim te agradecer,
porque já fiz isso em outros milhares de textos. Eu não vim te xingar ou
expor os seus defeitos,eu não vim, em
hipótese alguma, me rebaixar como em tantas outras vezes. Hoje, agora,
eu vim fazer o que demorei cerca de quase um ano pra ter coragem
suficiente: colocar um fim em tudo isso. E o tudo inclui você, eu, nós
dois, "jamais vai existir'. Eu queria que
você soubesse que, querendo ou não, a sua presença na minha vida foi um
divisor de águas nela. Seria em vão dizer o quanto você me fez bem,
porque isso está gravado em mim. Aquela garota que não sabia mais respirar, viver ou sorrir sozinha, hoje
sabe - e como sabe! Do mesmo
modo que me reconstituiu no início, no fim você me deixou trilhões de
vezes pior. Eu pensei que com você eu era alguém melhor, mas era comigo
que você se tornava alguém bom. E tudo o que eu senti, tudo o que eu te
disse e principalmente tudo o que eu não te disse, tudo, tudinho, foi de
verdade. Eu pensei que nunca conseguiria olhar pra outra pessoa com
mais afeto do que eu olhava pra ponta do seu queixo. Eu pensei que nunca
mais o meu coração se estremeceria tanto dentro do peito por outro
alguém. Eu pensei que jamais deixaria de esperar por você, de querer
você, de amar você. Mas eu estava enganada. Meu querido, você já foi
meu. E admitir que não é mais, também não machuca mais. Será que algo
dói em você, nem que seja o seu mindinho do pé? Não importa. Perguntas
como “será que ele sente falta?” ou “será que ele volta?” deixaram de
ter um valor significativo. O “será” não é mais uma hipótese
amedrontadora. E isso é tão, mas tão bom de dizer. Talvez você conheça a
sensação, afinal, ela o tocou primeiro. Mas o que importa é que ela,
enfim, me tocou também: a sensação de liberdade. Olhe como eu respiro
calma e tranquila agora. Olhe como os meus olhos permanecem sem lágrima
alguma ao afirmar isso. Olhe como eu olho a vida colorida e risonha,
mesmo sem você. O tempo passou, percebeu? Eu acabei de me dar conta
disso. E o melhor: sem rastros tristes, sem traços de raiva, sem
amargura alguma. Eu pensava que jamais me libertaria das correntes que
me prendiam ao nosso trem, mesmo que ele estivesse sempre vazio, tanto
de passageiros quanto de sentimentos. Eu me enganei, de novo. E nunca
pensei que estar enganada trouxesse uma paz de espírito assim. Se você
tiver seguido o meu conselho, posso ter a certeza de que continua uma
pessoa de bom coração. O seu objetivo não era me causar mal algum, eu
sei. Mas o fim não justifica os meios e, infelizmente, os meios podem
ser dolorosos. Eu joguei toda a culpa pra cima de mim, depois pra cima
de você, até que a joguei fora. Não existe culpa. O que existe, na
verdade, são dois corações calouros em busca da felicidade. E quem nunca
quebrou a cara tentando ser feliz, não é mesmo? A gente não vai ter
pena de morte por isso, por mais que tenhamos morrido inúmeras vezes
nessa brincadeira estúpida de gostar. Alguém há de perdoar a nossa
imprudência. A gente há de se perdoar, algum dia. Mas, hoje, eu queria
que você tivesse a absoluta certeza que não existe mágoa alguma em mim. O seu nome já foi o meu
maior medo de ser lido, a sua voz já foi a minha maior vontade de ser
escutada, o seu rosto sempre vai ser o meu maior anseio. No fundo, eu nunca vou deixar de gostar de você. Mas com certeza vou
aprender a amar outras pessoas. Perdi a
conta de quantas vezes eu quis você de volta, nem que fosse pra dizer
que estava tudo bem, que estava comigo, que me ouviria a madrugada
inteira se fosse preciso. Perdi a conta de quantas vezes quis te ligar
pra você ouvir, através dos meus soluços, o tamanho da minha dor. Perdi a
conta de quantas vezes implorei pra sentir de novo um pouquinho da
felicidade que era estar ao seu lado. Perdi a conta, perdi o rumo, perdi
você e me perdi de mim. Pensei que viveria para sempre dentro de um
pesadelo sem fim, mas, pela terceira vez, estava enganada. Mas uma coisa
é certa: eu nunca fui tão transparente quanto fui com você. Nunca, em
toda a minha vida, me expus tanto a um sentimento. Nunca fiquei tão pele
e osso na frente de alguém, mesmo que metaforicamente falando. O que eu
quero dizer é que eu fui quem eu jamais pensei que seria. Você
transformou as minhas partes ruins em partes toleráveis, e as minhas
partes boas em partes invejáveis. Obrigada por isso. Obrigada, de
verdade. Não queria que isso se tornasse cansativo, monótono ou exagero
demais, mas você, mais do que ninguém, sabe o quanto eu odeio ser
previsível e o quanto eu consigo ser isso quando escrevo. Ainda mais se o
destinatário tem o seu nome. Queria que você soubesse que eu não sinto
mais aquela compulsiva vontade e necessidade de encher papéis com
trechos de qualquer coisa que me vem na cabeça. Hoje em dia eu silencio
as minhas ideias e guardo as dores pra mim, como sempre fiz antes de
quebrar as barreiras e compartilhá-las com você. Não dói mais, acredita?
Dormir sem o seu “boa noite” não dói mais. Não ter o seu colo, o seu
ombro ou as pontas dos seus dedos gelados fazendo carinho não dói mais. Não dói ver as fotos, escutar as músicas ou sair de casa. Eu posso, enfim,
dizer que estou curada. O tempo me curou de tudo aquilo que eu pensei
ser incurável. E a vida tomou um novo rumo, eu estou seguindo outro
caminho, a luz do sol nunca brilhou tão forte assim. É lindo admitir que
o passado passou. Se você ler isso - e eu sei que você vai ler, um dia,
mas vai - eu espero que nenhuma ponta de arrependimento te toque um
pouco mais fundo. Mas espero, de todo o meu coração, que você encontre
alguém tão bom ou até melhor do que eu fui ou tentei ser. Jamais duvide
do quão maravilhoso você é, por favor. Eu prometo também jamais esquecer
que, apesar de toda essa minha estrutura, no fundo eu
também sou esse tal alguém maravilhoso que você enxergava em mim.
Não vou te pedir pra que
não me telefone mais ou pra que pelo-amor-de-Deus-me-telefone. O triste é
ver que todo aquele amor virou um mero “tanto faz”. E mais triste ainda
é reconhecer que eu não tenho mais motivo algum pra fingir que sou
forte o bastante e aguentar tudo sozinha. Eu desabo mesmo, choro. bato o pé mesmo. A melhor parte de você ter saído da minha
vida, é que eu tive espaço pra entrar nela. Por mais que não tenha mais
sentido escrever sobre o que fomos, tampouco tentar escrever sobre
outras pessoas procurando os seus traços no meio das palavras
embaralhadas. Não foi perda de tempo te amar, te esperar, te querer. Mas
confesso que seria perda de tempo viver pra sempre em uma bolha
impregnada com o seu cheiro. Obrigada pela sua parte que me fez feliz, e
obrigada ainda mais pela sua parte que me fez sofrer - ou melhor,
crescer. Eu não queria que isso ficasse nostálgico, mas foi impossível.
Peço perdão por isso, mas não me culpo por todo o resto. Não se culpe
também. Foi bom e teve fim… Está tendo um fim. Se precisar ter a certeza
de algo, eu te peço pra ter apenas de duas coisas: a primeira foi que
eu te amei; a segunda é que essa é a última vez, em toda a minha vida,
que eu escrevi sobre você.”
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